quarta-feira, 9 de maio de 2012

Domingo é ou não é dia de descanso?

Na semana passada, acompanhamos com interesse uma matéria publicada em um jornal de São Paulo, com grande circulação, sobre a questão de as concessionárias de carros poderem abrir ou não aos domingos.

Para adiantar, você não precisa ler este editorial inteiro, basta responder rapidamente se é a favor ou não do trabalho de vendedores aos domingos. Mande uma mensagem com sua opinião para leitor@editoraquantum.com.br

Para os que querem mais argumentos: essa discussão é uma das mais velhas do mundo, até porque tem na sua raiz a questão de considerar o domingo como dia santo ou de descanso.

Antes de qualquer debate teológico, devemos nos lembrar de que a semana de sete dias é uma invenção humana, ela não é natural. O que chamamos de dia tem apenas 24 horas porque aceitamos que fosse assim. Poderia ter 20 ou 30 horas, dependendo do modelo que tivesse vencido quando esses padrões foram criados.

O mês poderia ter 28 dias (seguindo o calendário lunar, por exemplo) e o ano poderia ter 13 meses (evitando a coisa mais esdrúxula do mundo, que são os anos bissextos e seus fevereiros de 29 dias e a alternância de meses com 30 ou 31 dias. Aliás, o ciclo menstrual das mulheres na média segue muito mais o mês de 28 dias do que o de 30 ou 31).

O teclado QWERTY, que é o que nos acostumamos a usar em qualquer computador (o nome é derivado das seis primeiras teclas superiores, da esquerda para a direita), foi criado para separar e dificultar a escrita, porque nas primeiras máquinas de datilografia as hastes das letras se cruzavam e ficavam presas umas nas outras. Quem nunca viu uma máquina de datilografia manual não faz a mínima ideia do que estou falando, mas os mais velhos com certeza irão se lembrar. De qualquer maneira, por uma questão de conveniência, os teclados continuaram exatamente na mesma configuração, mesmo que isso hoje em dia seja totalmente desnecessário.

Poderia ficar dando exemplos o dia inteiro de coisas antigas que ficaram do mesmo jeito porque nunca alguém parou para usar o cérebro e questionar sua forma. “É assim porque sempre foi assim” parece ser o mantra.

Trabalhar aos domingos para mim é a mesma coisa. Ninguém discute que as pessoas precisam de um descanso semanal. A questão é se esse descanso precisa ser aos domingos. 

Mais: por que todo mundo tem de descansar no mesmo dia? E se eu preferir trabalhar aos domingos para poder fazer outras coisas na segunda-feira, enquanto os outros trabalham?

Tomemos como exemplo o ato de ir ao médico: é quase impossível ir ao médico sem atrapalhar a manhã ou a tarde inteira. Entre o deslocamento e a fila de espera inevitável que acontece por falta de planejamento ou incompetência dos médicos que claramente praticam o overbooking, a coisa toda elimina facilmente um período do dia.

Então fica uma questão maluca: se está todo mundo trabalhando no “horário comercial”, é de se imaginar que muita gente DEIXE DE VENDER, porque seus clientes estão... trabalhando!

Um dos motivos pelos quais o comércio eletrônico cresce tanto no mundo inteiro é justamente pela conveniência. Posso comprar na hora que eu quiser – e as lojas virtuais estão abertas 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não existe “feriado” para elas.

Sindicatos que defendem o descanso obrigatório de todos os trabalhadores no mesmo dia estão fazendo várias coisas idiotas (e atrasadas), como todo bom sindicato:

• Não levam em consideração as mudanças e a evolução da sociedade, defendendo coisas que não são nem do século passado – são do século RETRASADO e surgiram com a Revolução Industrial.
• Não entendem que, ao dificultar o acesso dos consumidores às empresas, elevam os custos de tudo. Além disso, diminuem a remuneração média das próprias pessoas que dizem defender (o comércio aos domingos em shoppings, por exemplo, é de longe um dos melhores dias de faturamento. Se não fosse, as lojas nem abririam...).
• E o pior, não levam em consideração que muita gente pode querer, de maneira totalmente livre e voluntária, trabalhar aos domingos. Ou seja, poderia ser voluntário. Sindicatos ODEIAM a livre negociação porque isso tira o poder deles – eles querem “representar” a classe, nem que seja na força e na marra.

Enfim, eu tenho minha opinião clara (e agora pública): não trabalhar aos domingos, no varejo (e em serviços), é um atraso. Um bom exemplo é o que aconteceu na Europa. Lembro-me de pegar um táxi na Espanha com a Marília (estávamos em Valência) e perguntar ao taxista como andavam as coisas. Ele me respondeu muito sério dizendo que estava tudo péssimo. “Só para o senhor ter uma ideia de como as coisas estão ruins, algumas lojas estão tendo de abrir na hora da sesta!”. A sesta (ou soneca da tarde) é uma instituição espanhola fantástica. Mas não dá para tirar soneca quando os poucos clientes que existem estão sendo disputados e, principalmente, quando a concorrência não dorme.

A vida acelerou, sim, e, para competir hoje em dia, é preciso achar um jeito de acelerar também, sem perder o equilíbrio.

Mas quem manda é o cliente. E se o cliente quer comprar aos domingos, ou depois das 20 horas, ou antes das sete da manhã... você tem duas opções:

1. Adaptar-se a isso e prosperar;
2. Lutar contra e perder (porque alguém vai dar um jeito de atender os clientes que querem comprar).

Sindicalistas, obviamente, se soubessem responder corretamente a essa pergunta não seriam sindicalistas, seriam empresários bem-sucedidos.

E você, o que acha de tudo isso? Mande seus comentários: leitor@vendamais.com.br

Abraço e boas vendas,

Fonte: Raúl Candeloro diretor da Revista Venda Mais

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