quinta-feira, 24 de maio de 2012

Você é feliz no seu trabalho?

Em tempos que o fantasma do “apagão de líderes” anda assombrando o mercado de trabalho, a atração e a retenção desses profissionais tornam-se grandes desafios. O estudo Inside Employees Minds™ realizado pela Mercer, prestadora de serviços de consultoria em recursos humanos, outsourcing e investimentos, aponta que no Brasil, embora 80% dos entrevistados estejam satisfeitos com seus empregos, 67% dos altos executivos afirmaram ter a intenção de deixar as empresas nas quais trabalham no momento. Diante desses dados, o que dizem os especialistas sobre tais atitudes e comportamentos por parte dos profissionais? E as organizações, quais medidas estão tomando – ou devem tomar – para reverter esse quadro?

O cenário atual – As empresas brasileiras se desenvolveram economicamente e tal crescimento evidenciou também uma melhoria nos ambientes de trabalho e gerou, consequentemente, maior rotatividade de pessoal, na busca por salários mais altos e melhores oportunidades. É o que justifica a atitude dos funcionários que, embora estejam satisfeitos com seus empregos, seus gestores e suas remunerações atuais, ainda assim planejem deixar as organizações.

Para cargos de altos executivos, o mercado no Brasil é bastante divergente, ressalta Elaine Saad, vice-presidente da ABRH-Nacional – Associação Brasileira de Recursos Humanos: “Nos últimos dois anos tivemos uma procura muito grande por profissionais desse nível, isso fez que os salários dos executivos brasileiros subissem muito, atingindo níveis maiores que nos Estados Unidos e na Europa. Quando falamos sobre líderes, o assunto é ainda mais complexo, pois o profissional pode ser um bom gestor, um bom executivo, mas necessita amadurecer na área de liderança. Com esse cenário há, sim, uma escassez de líderes e uma alta procura por profissionais eficientes nessa competência”.

Fatores decisórios – De acordo com a pesquisa, 80% dos entrevistados no Brasil estão satisfeitos com seus empregos. O que leva, então, 67% dos altos executivos terem a intenção de deixar as empresas nas quais trabalham?

Certamente não é apenas a questão salarial que induz os altos executivos a ponderarem sobre a decisão de trocar ou não de empresa. São vários os fatores determinantes. “Muitos executivos podem estar satisfeitos com o cargo que ocupam, mas acabam recebendo propostas atraentes, não somente em relação a salário/benefícios, mas também que envolvem aspectos que podem fazê-lo aceitar a mudança. Esses fatores atualmente têm sido mais importantes tanto para os profissionais com mais de 40 anos de idade quanto para aqueles entre 30 e 40 anos. A qualidade de vida, o número exacerbado de viagens e o acúmulo de tarefas têm feito muitos deles repensarem qual é o seu verdadeiro propósito na vida e o que precisam para realizá-lo adequadamente”, complementa a vice-presidente da ABRH-Nacional.

Na opinião de Alexandre Ferreira Rolim, coordenador do curso de administração da Faculdade IBS Business School – FGV, um dos fatores que determina a permanência de um executivo em uma empresa é a possibilidade de realizar algo diferente ou de enfrentar um novo desafio. Segundo ele, um profissional pode estar assumindo uma boa posição em uma determinada empresa e pode ser convidado a experimentar um novo desafio em outra organização. “Mesmo que o salário não seja mais alto, a possibilidade de realizar algo diferente é, de certo modo, animadora e muitas vezes a troca de emprego se dá por esse fator. É uma necessidade de deixar um legado, algo que faça que sejamos lembrados, além, é claro, de nos sentirmos profissionalmente realizados”, completa.

O clima organizacional também é um fator relevante para a mudança de emprego, mas ele é mais determinante para sair de uma empresa do que para entrar, constata o coordenador. “Um executivo poderá procurar outro emprego devido a não conseguir se relacionar bem com as pessoas de seu trabalho, mas dificilmente se escolherá outra instituição pelo clima organizacional que ela apresenta. Isso só pode ser realmente conhecido com a experiência”, opina.

Na edição deste mês da revista Liderança (www.lideraonline.com.br), você encontra os dez fatores mais valorizados pelos altos executivos no momento de decidir por continuar ou não nas empresas em que trabalham. As dicas são de Alexandre Ferreira Rolim, coordenador do curso de administração da Faculdade IBS Business School | FGV.

Fonte: Júlio Clebsch é editor da revista Liderança. 
P.S.: Este artigo é uma versão reduzida da matéria Você é feliz no seu trabalho? publicada originalmente na revista Liderança de maio de 2012 e de autoria da jornalista Pauline Machado.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Como Impressionar seus Consumidores

No ambiente corporativo atual, no qual há um declínio da confiança do consumidor e uma intensificação da comunicação social, as organizações não mais controlam a percepção que as suas marcas possuem.

Bem-vindo à Era do Consumidor

Já se foram os dias que as marcas controlavam suas imagens através de materiais de marketing e propagandas.  O surgimento da mídia social mudou fundamentalmente a maneira como o consumidor procura e compartilha informações. Os clientes atuais têm acesso às informações através de uma variedade de canais e, rapidamente, dividem suas opiniões nas comunidades que fazem parte, tanto on-line como off-line, as quais  não sofrem influência das organizações.

Clientes defensores da marca podem ser a salvação das empresas, porém esses falam bem por livre e espontânea vontade e não podem ser persuadidos pela companhia para esse fim. Para construir relações autênticas e significativas com os clientes, as marcas devem focar em conversas personalizadas e valiosas, construindo, assim, confiança e lealdade. Pense nessa aproximação como um namoro: você precisa construir um relacionamento do zero e respeitar as necessidades e interesses da pessoa que você quer impressionar. Para uma relação duradoura, as marcas precisam voltar ao básico e dar atenção a esses três princípios fundamentais de um relacionamento:

1) Comprometer-se: Construir relações significativas com o cliente e estimular os defensores da marca não são tarefas fáceis e, certamente, não podem ser atingidas sem o comprometimento total da organização. É imprescindível que a estratégia de relacionamento com o cliente seja determinada por todos os departamentos internos e dos níveis executivos. O envolvimento do consumidor proativo deve ser disseminado como um valor interno para empresa. Desta maneira, as iniciativas de serviços para o cliente não se tornarão vítimas de um relacionamento negligenciado.

2) Prestar atenção nos pequenos detalhes: Você chegou ao um ponto que toda a organização tem uma posição única de como melhorar o relacionamento com o cliente. E agora? Para manter uma relação recompensadora, é essencial ter uma comunicação de mão dupla e perceber as necessidades e os desejos de cada lado.

O primeiro ato de uma estratégia de Gestão de Clientes reformulada deve identificar um modo eficiente de ouvir e monitorar as conversas que seus consumidores estão tendo com a própria empresa e com os demais clientes. Isso ajudará ter uma visão mais aprofundada sobre pontos problemáticos, necessidades e satisfações do consumidor da marca. Talvez sejam até pensamentos nunca imaginados ou cogitados pelos funcionários.

3) Mostrar como você se sente: O antigo mantra “Ações falam mais que palavras” é especialmente verdadeiro quando aplicado na interação com clientes. É essencial que organizações respondam, estrategicamente e em tempo real,  insights que eles descobrem em relação ao cliente.

Agir mostrará ao consumidor que a sua necessidade é prioridade máxima para a organização. Vendo dessa maneira, é nítido que o engajamento do cliente proativo e a capacidade de resposta irão produzir experiências de alta qualidade e consumidores satisfeitos tendem a dividir suas experiências positivas, tanto on-line como off-line.

Com certeza, pode ser uma tarefa intimidadora explorar as conversas de seus consumidores. Às vezes, as companhias se esforçam para otimizar  processos, utilizando meios litigáveis. É nesse momento que a tecnologia pode oferecer um impulso para uma estratégia de Gestão de Clientes.

Ao integrar uma plataforma de feedback com as redes sociais que os consumidores já utilizam e interagem, as marcas podem ouvir, conectar-se e engajar-se através de iniciativas que antes eram indisponíveis. Essas soluções podem vir de diversas formas, como:

- Conselho consultivo formado por clientes: Plataforma fechada na qual fãs da marca que são criativos e críticos podem contribuir no teste de um produto ou em uma pesquisa de opinião;
- Fóruns interativos de opinião: Possibilitar que fãs entusiasmados e influenciadores tenham a chance de dividir o feedback positivo deles em canais abertos e de fácil navegação;
- Marketing viral: Integrar enquetes e pesquisas nas plataformas sociais como uma forma de identificar conteúdos que os clientes adorariam ter e poder dividir.

Cada uma dessas características contribui para construir uma experiência positiva e interativa entre a marca e seus consumidores, além de possibilitar uma mensagem personalizada e de fácil monitoramento.

A expansão dos resultados

É interessante  notar é que os resultados provenientes de soluções on-line irão atingir também canais não tradicionais. Uma marca que faz uma ação positiva nas próprias lojas verá os resultados comentados em meio on-line e poderá utilizá-los nas redes sociais. A experiência que ocorre em canais sociais pode solucionar experiências negativas, estimular compras off-line através de recomendações feitas por outros consumidores e descobrir insights que podem alterar a forma como os negócios são conduzidos. No final, os mesmos princípios se aplicam para os canais de comunicação tradicionais e os sociais: marcas que adicionarem valores e entregarem conversas personalizadas com os clientes obterão relacionamentos que durarão a vida toda.

Fonte: Ivar Kroghrud do 1to1Blog. http://blog.1to1.com.br

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Contratados pelo currículo, demitidos pelas atitudes

O momento atual é muito favorável às contratações em todas as regiões do País. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, indicam que em março deste ano foram criados no Brasil 111.746 postos de trabalho com registro em carteira, 20,6% mais do que em março do ano passado. Os setores que mais contrataram foram os de serviços e construção civil. Os salários também subiram, cerca de 4,47%, comparados a 2011.

Apesar do mercado de trabalho estar tão aquecido, a taxa de desemprego estar baixíssima e existir falta de mão de obra qualificada, muitos profissionais com ótimo currículo são demitidos com frequência e não conseguem progredir na carreira. O que acontece a essas pessoas?

Entre as cinco principais razões que levam as empresas a demitirem seus funcionários quatro estão relacionadas a problemas comportamentais, como péssimo relacionamento com o grupo, acomodação, inaptidão para a liderança e falta de profissionalismo (não cumprem os prazos ou se atrasam com frequência). Apenas 20% das demissões – em países com baixas taxas de desemprego – têm relação com falta de conhecimento ou de preparo técnico. Ou seja, dependendo do cargo, não adianta a pessoa ser fluente em três idiomas, ter cursado uma faculdade de primeira linha e ter MBA se suas atitudes forem ruins.

Mais do que aproveitar a oportunidade para encontrar ou mudar de emprego, neste momento é importante que os profissionais brasileiros invistam não só na composição de um bom currículo como também no aprimoramento de suas  habilidades comportamentais, já que, mesmo com um contexto tão favorável, as  pessoas continuam a ser contratadas pela qualidade dos seus currículos e demitidas por suas atitudes.

Se prestarmos a devida atenção à questão, perceberemos que atitudes ruins têm grande relação com a falta de inteligência emocional. Até o lançamento do livro Estruturas da mente, do psicólogo americano Howard Gardner, em 1983, para a maioria das pessoas a inteligência era atribuída apenas a indivíduos com alto QI (quociente de inteligência). Gardner quebrou esse paradigma, mostrando em seus estudos a existência de pelo menos outras sete inteligências além do QI, e que cada pessoa é habilidosa de diferentes formas. Entre as inteligências múltiplas apresentadas pelo psicólogo, as que tratam da capacidade do indivíduo em se relacionar com as pessoas e conhecer bem a si mesmo, somadas, resultam no QE, ou quociente de inteligência emocional.

É importante ressaltar que o baixo QE pode destruir uma carreira. Pessoas com pouca inteligência emocional têm um autoconhecimento limitado, e aí começa o problema.

Normalmente esse indivíduo não tem consciência de seus comportamentos, e tem dificuldade em avaliar o impacto que suas atitudes podem causar nos demais. Como consequência, costuma ser egocêntrico, lida mal com o estresse, tem baixa tolerância a frustrações e, como consequência, costuma apresentar problemas comportamentais que normalmente resultam em demissões.

Diferentemente do QI, que muda muito pouco na idade adulta, a inteligência emocional pode ser aprimorada por meio da disciplina e do autoconhecimento.

É preciso que, antes de tudo, percebamos qual é o efeito que nossos comportamentos causam nas pessoas, no ambiente de trabalho, e até mesmo em nossa vida pessoal. Para isso, é essencial levarmos em consideração os feedbacks recebidos, sejam de um superior, sejam de um subordinado, sejam de parentes e amigos.

Saber usar os pontos fortes, administrar os pontos limitantes e persistir diante de frustrações são atributos que fazem parte das competências de um profissional com alta inteligência emocional. É importante ressaltar que isso não é importante somente na vida corporativa. Um alto QE nos permite perceber melhor quem somos, estabelecer relacionamentos mais saudáveis com aqueles que nos rodeiam e tomar atitudes capazes de tornar nossa vida muito melhor.

Fonte: Eduardo Ferraz é consultor em gestão de pessoas há 21 anos e especialista em treinamentos usando como base a neurociência comportamental. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Uma Compra Não é Sinônimo de Opt-in*

Quantas vezes você já fez uma compra on-line e depois viu sua caixa de entrada ser bombardeada de e-mails da empresa? Muitas vezes, tenho certeza.

Sim, varejos on-line precisam do endereço de e-mail do consumidor para confirmar uma compra. Mas são apenas as empresas com foco no cliente que, na verdade:

1) Sabem que o e-mail será usado apenas para confirmação do pedido e

2) Perguntam se o cliente gostaria de entrar na lista de mailing deles.

Muitas empresas simplesmente dão um opt-in pelo consumidor somente por que ele realizou uma compra. Obrigada mas, primeiramente, me pergunte. Do contrário, você pode estar gastando dinheiro com alguém que nunca irá se tornar um consumidor regular.

Sites de compra on-line não são os únicos sem uma etiqueta apropriada de opt-in. Eu já fiz diversas doações a organizações em nome de amigos e colegas que estavam participando de alguma campanha, somente para descobrir que entrei para a lista de mailing destas organizações.

A questão é a seguinte, talvez eu esteja comprando um presente e não quero estar na sua lista de mailing de jogos, instrumentos musicais ou roupas de yoga. Similarmente, talvez eu esteja doando para uma organização que é importante para um amigo ou colega, e eu estou feliz em ajudá-los nas causas que suportam, mas eu tenho as minhas instituições beneficentes preferidas, que eu optei por receber notícias de tempos em tempos.

Então, por favor, não dê um opt-in sem me perguntar. E não o faça com outros consumidores e doadores que compraram ou contribuíram somente uma vez. Se você o fizer, você acabará com uma lista cheia de prospects não interessados que irão impactar negativamente nos resultados de seus programas de marketing. É melhor ter uma lista menor, mas de consumidores que estão realmente interessados, do que uma lista grande daqueles que deletam seu e-mail sem ao menos ler o assunto ou a primeira linha – ou pior, que deletam seu e-mail ou jogam fora seu catálogo assim que veem a logo marca da sua empresa.

Afinal, uma compra é simplesmente uma compra. Não um opt-in.

Os consumidores é quem optam por receber sua comunicação.

Autor: Ginger Conlon

*Opt-in: Opção exercida pelo cliente que dá autorização à empresa para que ela envie qualquer tipo de comunicação sobre temas relacionados ao interesse do cliente ou faça um contato ativo - Retirado do Guia CRM Series Marketing 1to1®, do Peppers & Rogers Group.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Uma década de ecommerce no Brasil

Há cerca de 10 anos, no dia 15/03/2002 para ser mais exato, publiquei um artigo sobre as perspectivas do ecommerce na década seguinte chamado: “O que o Futuro Reserva para o eCommerce”. Pois bem. Esse período passou rapidamente, de maneira que hoje podemos olhar para o espelho retrovisor e comparar as previsões com aquilo que realmente ocorreu. O artigo partia da premissa de que o crescimento do ecommerce estava diretamente relacionado ao crescimento no número de usuários na Internet e fazia previsões sobre esse crescimento. No final de 2001 contávamos com uma população de 172,3 milhões e cerca de 12 milhões de internautas, e a questão era: quantos internautas teríamos no Brasil ao final de 2011?

Para fazer essa projeções foram utilizadas a população brasileira e a proporção de Internautas na época, bem como as taxas de crescimento históricas dessas e de outras variáveis disponíveis. Foram utilizados nas análises três cenários distintos que levaram às previsões resumidas no quadro abaixo:


CENÁRIOS Cresc./ano INTERNAUTAS
OTIMISTA 20% 74,3 mi
INTERMEDIÁRIO 16% 52,9 mi
PESSIMISTA 12% 37,2 mi


Dados recentes do Ibope NetRatings mostram que no quarto trimestre de 2011 o número de pessoas com acesso à Internet em qualquer ambiente (casa, trabalho, lan-house, e outros...)  atingiu 79,9 milhões, ou seja, mais de 6% acima da minha previsão mais otimista para o ano passado.  Trata-se de um crescimento estupendo e que possibilitou o alcance de mais de 31 milhões de consumidores on-line e um faturamento acima de 18 bilhões ao ano.

Hoje, uma década depois, a Internet e o ecommerce não são apenas expectativas, mas fazem parte da realidade de nossas vidas e de forma cada vez mais intensa. Já está difícil para nós imaginarmos um dia sem acesso à Internet, assim como fica cada vez mais difícil imaginar uma empresa ou organização que não tenha presença ativa na rede.

E nos próximos 10 anos, para onde caminharemos?

Não vou exercitar novamente meu lado “futurologista”, apesar de que agora, depois de uma década de crescimento está muito mais fácil de se fazer projeções. Mas não resisto a tentação de pelo menos dizer que o acesso à Internet tende a se universalizar, ou seja, assim como ocorreu com o rádio e a TV algum tempo atrás, daqui a uma década a maioria absoluta dos lares terá um computador com acesso a Internet. A partir desse dado, pode-se imaginar o que estará acontecendo com o ecommerce quando virarmos 2020: praticamente toda a população adulta terá acesso às compras on-line; todos estarão habituados a comprar regularmente pela Internet, e haverá a consciência geral de que o ecommerce é a forma mais prática, mais fácil e mais econômica de se comprar qualquer produto ou serviço.

Espero estar bem vivo até lá para continuar a vivenciar essa revolução tecnológica chamado Internet que mudou a forma com a qual as pessoas se comunicam, buscam conhecimento e informações, e compram.

Fonte: Dailton Felipini é mestre e graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Consultor especialista em e-commerce, autor de cinco livros sobre e-commerce e editor do site www.e-commerce.org.br.

Domingo é ou não é dia de descanso?

Na semana passada, acompanhamos com interesse uma matéria publicada em um jornal de São Paulo, com grande circulação, sobre a questão de as concessionárias de carros poderem abrir ou não aos domingos.

Para adiantar, você não precisa ler este editorial inteiro, basta responder rapidamente se é a favor ou não do trabalho de vendedores aos domingos. Mande uma mensagem com sua opinião para leitor@editoraquantum.com.br

Para os que querem mais argumentos: essa discussão é uma das mais velhas do mundo, até porque tem na sua raiz a questão de considerar o domingo como dia santo ou de descanso.

Antes de qualquer debate teológico, devemos nos lembrar de que a semana de sete dias é uma invenção humana, ela não é natural. O que chamamos de dia tem apenas 24 horas porque aceitamos que fosse assim. Poderia ter 20 ou 30 horas, dependendo do modelo que tivesse vencido quando esses padrões foram criados.

O mês poderia ter 28 dias (seguindo o calendário lunar, por exemplo) e o ano poderia ter 13 meses (evitando a coisa mais esdrúxula do mundo, que são os anos bissextos e seus fevereiros de 29 dias e a alternância de meses com 30 ou 31 dias. Aliás, o ciclo menstrual das mulheres na média segue muito mais o mês de 28 dias do que o de 30 ou 31).

O teclado QWERTY, que é o que nos acostumamos a usar em qualquer computador (o nome é derivado das seis primeiras teclas superiores, da esquerda para a direita), foi criado para separar e dificultar a escrita, porque nas primeiras máquinas de datilografia as hastes das letras se cruzavam e ficavam presas umas nas outras. Quem nunca viu uma máquina de datilografia manual não faz a mínima ideia do que estou falando, mas os mais velhos com certeza irão se lembrar. De qualquer maneira, por uma questão de conveniência, os teclados continuaram exatamente na mesma configuração, mesmo que isso hoje em dia seja totalmente desnecessário.

Poderia ficar dando exemplos o dia inteiro de coisas antigas que ficaram do mesmo jeito porque nunca alguém parou para usar o cérebro e questionar sua forma. “É assim porque sempre foi assim” parece ser o mantra.

Trabalhar aos domingos para mim é a mesma coisa. Ninguém discute que as pessoas precisam de um descanso semanal. A questão é se esse descanso precisa ser aos domingos. 

Mais: por que todo mundo tem de descansar no mesmo dia? E se eu preferir trabalhar aos domingos para poder fazer outras coisas na segunda-feira, enquanto os outros trabalham?

Tomemos como exemplo o ato de ir ao médico: é quase impossível ir ao médico sem atrapalhar a manhã ou a tarde inteira. Entre o deslocamento e a fila de espera inevitável que acontece por falta de planejamento ou incompetência dos médicos que claramente praticam o overbooking, a coisa toda elimina facilmente um período do dia.

Então fica uma questão maluca: se está todo mundo trabalhando no “horário comercial”, é de se imaginar que muita gente DEIXE DE VENDER, porque seus clientes estão... trabalhando!

Um dos motivos pelos quais o comércio eletrônico cresce tanto no mundo inteiro é justamente pela conveniência. Posso comprar na hora que eu quiser – e as lojas virtuais estão abertas 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não existe “feriado” para elas.

Sindicatos que defendem o descanso obrigatório de todos os trabalhadores no mesmo dia estão fazendo várias coisas idiotas (e atrasadas), como todo bom sindicato:

• Não levam em consideração as mudanças e a evolução da sociedade, defendendo coisas que não são nem do século passado – são do século RETRASADO e surgiram com a Revolução Industrial.
• Não entendem que, ao dificultar o acesso dos consumidores às empresas, elevam os custos de tudo. Além disso, diminuem a remuneração média das próprias pessoas que dizem defender (o comércio aos domingos em shoppings, por exemplo, é de longe um dos melhores dias de faturamento. Se não fosse, as lojas nem abririam...).
• E o pior, não levam em consideração que muita gente pode querer, de maneira totalmente livre e voluntária, trabalhar aos domingos. Ou seja, poderia ser voluntário. Sindicatos ODEIAM a livre negociação porque isso tira o poder deles – eles querem “representar” a classe, nem que seja na força e na marra.

Enfim, eu tenho minha opinião clara (e agora pública): não trabalhar aos domingos, no varejo (e em serviços), é um atraso. Um bom exemplo é o que aconteceu na Europa. Lembro-me de pegar um táxi na Espanha com a Marília (estávamos em Valência) e perguntar ao taxista como andavam as coisas. Ele me respondeu muito sério dizendo que estava tudo péssimo. “Só para o senhor ter uma ideia de como as coisas estão ruins, algumas lojas estão tendo de abrir na hora da sesta!”. A sesta (ou soneca da tarde) é uma instituição espanhola fantástica. Mas não dá para tirar soneca quando os poucos clientes que existem estão sendo disputados e, principalmente, quando a concorrência não dorme.

A vida acelerou, sim, e, para competir hoje em dia, é preciso achar um jeito de acelerar também, sem perder o equilíbrio.

Mas quem manda é o cliente. E se o cliente quer comprar aos domingos, ou depois das 20 horas, ou antes das sete da manhã... você tem duas opções:

1. Adaptar-se a isso e prosperar;
2. Lutar contra e perder (porque alguém vai dar um jeito de atender os clientes que querem comprar).

Sindicalistas, obviamente, se soubessem responder corretamente a essa pergunta não seriam sindicalistas, seriam empresários bem-sucedidos.

E você, o que acha de tudo isso? Mande seus comentários: leitor@vendamais.com.br

Abraço e boas vendas,

Fonte: Raúl Candeloro diretor da Revista Venda Mais