Quem costuma viajar para o exterior sempre é lembrado do custo Brasil ao confrontar os preços cobrados por qualquer tipo de mercadoria aqui e lá fora. Um exemplo claro disso é o do automóvel, que custa para o brasileiro cerca de 50% a mais do que para qualquer outro consumidor do planeta. Para a maioria dos produtos, a principal causa do alto custo é a mão pesada do governo que taxa excessivamente tudo que se produz por aqui, o que acaba inflando os custos em toda a cadeia distributiva. No caso dos ebooks, os livros digitais que estão nascendo para o mercado em todo o mundo, isso não poderia ser diferente.
As editoras se deparam em primeiro lugar com a necessidade de registrar um ISBN, um código numérico para cada livro, de forma a identificar os seus produtos.
Para fazer isso, são obrigadas a contar com a boa vontade de um órgão chamado FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, que funciona como uma espécie de cartório de registro das publicações realizadas no Brasil. O processo, além de arcaico e burocrático, é caro. É preciso imprimir o arquivo digital em papel e enviar para este órgão juntamente com o preenchimento de formulários. A taxa para esse órgão recolher essa papelada e guardar em algum canto que não tenha goteiras é de cerca de R$ 100 por título, ou seja, uma editora que possui mil títulos gasta R$ 100 mil somente para registrar seus ebooks.
Conversão de formato dos ebooks
Outra dificuldade é a mudança de formato dos ebooks. Atualmente o mercado editorial está caminhando para a utilização do ePub como padrão para a comercialização dos títulos na versão eletrônica, o que acaba tornando a conversão de arquivos, geralmente de PDF para ePub, praticamente uma necessidade. Esse trabalho é realizado por empresas que cobram cerca de 2 reais por página convertida. Assumindo um tamanho médio de 200 páginas por ebook e utilizando o exemplo da empresa que possui 1.000 títulos, o investimento necessário para a conversão será de (200 x 2 x 1.000) R$ 400,00 mil.
Custo de distribuição
Para dificultar ainda mais, as empresas distribuidoras transferiram para o mundo digital a sua tradicional margem de ganho de 50% sobre o valor de capa, mesmo considerando que todo o processo de armazenamento e entrega será realizada de maneira eletrônica, com os ebooks armazenados em um servidor e acessados pelos compradores por meio da Internet. Então, um ebook cujo valor de capa seja R$ 10,00 gerará para a editora uma receita bruta de R$ 5,00. Descontando-se os direitos dos autores entre 10% a 20%, e todos os custos fixos e variáveis da empresa, percebe-se que não vai ser muito fácil a vida dos editores no novo mundo digital.
Equipamentos de leitura
Uma última barreira a ser superada pelo mercado de ebooks encontra-se nos equipamentos utilizados para leitura de ebooks. Atualmente são utilizados majoritariamente os ebooks readers, como o Kindle da Amazon, os tablets, como o Ipad, da Apple e, em menor escala, os smartphones, como o Galaxy da Samsung. Produtos eletrônicos, assim como qualquer outro, são pesadamente taxados no Brasil. Para se ter uma idéia, o Ipad4 -32 gb que pode ser comprado nos Estados Unidos por cerca de U$ 599 é comercializado por aqui, pela bagatela de 2.199 reais, ou U$ 1.099, exatamente o dobro. Considerando essa sobretaxa de 50% e o alto nível de renda dos brasileiros, é óbvio que as pessoas terão muito mais dificuldade para migrar para o mundo eletrônico. Azar dos leitores, azar dos editores, azar do Brasil, que poderia aproveitar a grande revolução da Internet para diminuir o abismo educacional, que existe entre nós e o restante dos países saudáveis do mundo.
Será que esse pessoal que reside no planalto central, e gosta de construir estádios, em algum momento pensa nessa questão? Sou otimista, mas não tanto.
Fonte: Dailton Felipini é mestre e graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Consultor especialista em e-commerce, autor de cinco livros sobre ecommerce, editor do site www.e-commerce.org.br e da LeBooks: Livraria de eBooks.